Boas perspectivas macroeconômicas para o Brasil em 2018
Vídeo do 19º Seminário Econômico Fundação CEEE está disponível no Facebook.
“Após dois anos de uma crise gravíssima, o cenário macroeconômico para o Brasil em 2018 parece muito bom”, destacou o economista Fernando de Holanda Barbosa Filho, no painel do 19º Seminário Econômico da Fundação CEEE realizado no Centro de Eventos do Barra Shopping Sul na tarde do dia 28 de novembro. Junto com o professor Fernando Schüler e o economista Carlos Kawall foi apresentado um cenário auspicioso para o país, com um crescimento econômico de 2,5%, taxa Selic de 7% e inflação de 4% ao ano e dólar a R$ 3,30. No entanto, os economistas alertaram ser fundamental a aprovação da Reforma da Previdência para a retomada da confiança e novos investimentos. No campo político, Fernando Schüler lembrou a incógnita eleitoral para 2018 em uma democracia ainda instável com 28 partidos e o risco de retorno do populismo, seja à esquerda ou à direita. O 19º Seminário Econômico teve mais de 600 inscrições, foi transmitido pela internet com mediação dos debates pela jornalista Dalva Bavaresco, apresentadora da TVE e especialista em Relações Internacionais. Foram patrocinadores: Modal, Verde Asset Management, Icatu Seguros, RSUL Vida Seguros e Banco Safra.
Abertura
Na abertura do evento, foi apresentado um vídeo da Fundação CEEE, com destaque para o “Plano Família Previdência”. O mestre de cerimônias Luis Afonso Rech destacou os mais de 60 palestrantes profissionais que passaram pelo Seminário Econômico desde a primeira edição e anunciou para 2018 um novo aplicativo previdenciário da Fundação denominado “Meu Plano”, com acesso por celular. A instituição possui mais de 15 mil participantes, entre ativos, aposentados e pensionistas, e conta com um patrimônio de R$ 6 bilhões. De 2002 a 2016 acumulou uma rentabilidade nominal de 678%.
Cenário Político
Com o tema “Como chegamos até aqui e o que esperar logo adiante”, o consultor e professor Fernando Schüler traçou um paralelo do Brasil atual, citando o escritor venezuelano Moisés Naim na abordagem sobre o mal-estar da democracia e a instabilidade política dos nossos tempos: “vivemos a crise da reputação clássica das grandes democracias, onde o cidadão é mais crítico, aflorando movimentos de protesto como os que ocorreram no Brasil a partir de 2013”. Com a explosão das crenças individuais, aumentou a desconfiança nas instituições no Brasil e no Mundo. Como exemplo, citou um jovem que carregava um cartaz contra a prova da OAB nas manifestações de 2013. Quando perguntado sobre a razão daquele ato, afirmou: “é porque eu não consigo passar na prova”. Para Schüler, a perda de consenso político em questões básicas da democracia e o funcionamento do Estado nos levaram à situação atual: “chegamos a um ponto em que as reformas trabalhistas e da previdência social só podem ser feitas por um governo impopular”. Outro aspecto é a explosão de partidos: por ausência de uma cláusula de barreira, o Brasil tem 28 partidos e outros 60 partidos em processo de registro. Com cláusula de barreira poderíamos ter apenas oito partidos.
Governo Temer
Para Fernando Schüler, durante o governo de Michel Temer, com as pesquisas apontando índices de impopularidade na faixa de 83,2%, “tivemos uma modernização como não tínhamos visto no Brasil”. Citou entre as principais ações: 1) A Lei de governança dos Estados; 2) A PEC do teto dos gastos públicos; 3) A reforma da legislação trabalhista e 4) A instituição da TLP (Taxa de Longo Prazo utilizada nos empréstimos do BNDES). Está ainda na pauta a Reforma da Previdência. Em razão dessa impopularidade do Presidente, “me perguntam com frequência por que as pessoas não vão para as ruas protestar?” Uma das razões, segundo Schüler, é que não há consenso sobre o que o Brasil quer. Neste ano de 2017 considerado “paradoxal” pelo palestrante, a primeira fase pós-impeachment de Dilma foi de euforia e, na segunda fase, veio a instabilidade e paralização por conta das denúncias de corrupção contra Temer. Lamentando que o país não tenha avançado na reforma política, lembrou que as próximas eleições majoritárias custarão R$ 5 bilhões e “só tem R$ 1,8 bilhão de recursos públicos”, já que estão proibidas doações de empresas para campanhas eleitorais. Nas projeções para 2018, Schüler não acredita em candidato outsider ou independente em razão da estrutura custosa do sistema político brasileiro. Segundo ele, vamos ter o “fantasma do populismo” com Lula como candidato da esquerda e Jair Bolsonaro como candidato conservador. No centro, aponta como candidatos Geraldo Alckmin, João Dória e Henrique Meirelles. Para finalizar, Fernando Shcüler lembrou que o Brasil está se transformando em sociedade civil de redes sociais, esperando que o processo de renovação política possa avançar.
Como segundo palestrante, o PhD em Economia pela New York University, Fernando de Holanda Barbosa Filho, disse que, depois de dois anos de crise gravíssima o cenário macroeconômico para o Brasil parece muito bom. No entanto, a perda de 10% ao ano do PIB per capita não será recuperada: “tínhamos problemas fiscais e a então presidente Dilma não acreditava que os problemas existissem”, destacou. O déficit fiscal, acrescentou, foi causado pelo governo Dilma, com as desonerações da folha de pagamento das empresas. Agora que as principais questões fiscais estão sendo enfrentadas retomou a confiança com a volta do crédito, do consumo e da produção. Segundo o Economista, o Brasil precisa aproveitar essa ‘brecha’ em que o mundo está benevolente com juros baixos e inflação controlada, o que significa “uma janela de oportunidades que parece que vai durar”. Diante disso, é possível projetar um crescimento econômico de 0,8% em 2017 e de 2,5% em 2018, com a taxa Selic na faixa de 7% no final de 2017, mantendo-se nesse patamar em 2018. A inflação prevista para 2017 é de 5,5% e de 4% para 2018. Segundo ele, “a economia saiu do buraco e a pior crise já passou”, apesar do desemprego estar na faixa dos 12% e a indústria estar se recuperando em ritmo lento. Acreditando ser primordial a Reforma da Previdência, entre as “más notícias”, ele considera as incertezas políticas em ano eleitoral; problemas de produtividade nas empresas e risco da escassez energética. No setor externo, o economista aponta a recuperação de preços ao consumidor, a inflação global sob controle, o que aponta um cenário positivo para o Brasil “arrumar a casa”. Lembrando que a retomada de confiança do empresário e do consumidor, disse que o dólar deve ficar no patamar de R$3,18 no final do ano e de R$ 3,30 em 2018. O consumo vai se acelerar em 2018 e a indústria deve se recuperar, crescendo 3% no próximo ano. Para ele, o risco fiscal ainda é grande com o déficit de 5% do PIB e, se não mexer na estrutura da economia, “haverá aumento de impostos, mesmo que temporariamente”. O fundamental é evitar que a dívida exploda e a inflação seja elevada. “Quem vai pagar a conta?, questionou. Será pelo corte de gastos públicos ou por elevação da alíquota do Imposto de Renda, já na faixa dos 33%? O Brasil gasta 13% do PIB com a Previdência Social, o que representa mais do que o que gasta com Saúde e Educação. Finalizando a palestra, Fernando Barbosa Filho alertou para o risco energético, diante da falta de chuvas e que só com maior produtividade o Brasil terá uma melhora constante na economia.
Surpresa na zona do Euro
O terceiro palestrante do Seminário, o economista-Chefe do Banco Safra, Carlos Kawall, que foi Secretário do Tesouro Nacional, iniciou afirmando que a surpresa do ano veio do crescimento da zona do Euro em 2,2%, enquanto a China chegou a 6,8% e os Estados Unidos entre 2,0% e 2,5%. Para os Estados Unidos houve um erro de previsão, segundo ele, porque o dólar não se fortaleceu com a eleição de Donald Trump. Concordando com as análises do economista que o antecedeu, Kawall disse que era previsto uma instabilidade na economia mundial que acabou não ocorrendo. O preço das commodities se recupera, o que é favorável para países em desenvolvimento como o Brasil. “Está tão bom que não dá para melhorar”, destacou o palestrante. Lembrou que a crise brasileira “é nossa mesmo”, levando o país a ficar entre os piores do G-20. Entre diferentes episódios de recessão, “nunca o Brasil viveu uma recessão como a de 2015 a 2017, maior até que a dos Estados Unidos em 2008”. Apesar da volta do crescimento da economia, “só em 2019 vamos recuperar o PIB que tínhamos em 2014”. Comemorando que “a recessão ficou para trás” com a recuperação do consumo, disse que foram perdidos 3 milhões de empregos formais desde 2015. Para ele, a Reforma Trabalhista é uma boa notícia diante da possibilidade de acordos legais entre patrões e empregados. Para ele, a taxa de juros ficará em 7% ao ano até 2019, considerando que “seguimos a velha e boa teoria econômica e tudo melhorou”. No entanto, alertou para o déficit R$ 500 bilhões/ano em despesas obrigatórias em total rigidez, o que segundo ele, “é insustentável”. Defendendo a Reforma da Previdência, disse que “nenhum país do mundo prescinde da idade mínima para a aposentadoria”.