22º Seminário Econômico da FFP abordou os rumos da política brasileira e recuperação econômica pós-pandemia
Tarde teve palestras de Silvio Cascione, Samuel Pessôa e Maílson da Nóbrega.
O segundo dia da jornada conjunta do Connect 7º Caminhos para o Futuro e 22º Seminário Econômico da Fundação Família Previdência foi de previsões, tanto na conjuntura política, quanto econômica. Ao vivo e online, o evento teve como principais temas as projeções de cenários para os próximos meses e anos com participação do Diretor Presidente, Rodrigo Sisnandes Pereira e apresentação da jornalista Dalva Bavaresco.
O mestre em ciência política Silvio Cascione abriu o evento falando que o Brasil enfrentará grandes desafios fiscais e que reformas precisam ser priorizadas. Integrante da Eurasia Group, empresa de consultoria e pesquisa de risco político com escritórios em diversas metrópoles mundiais, Cascione fez algumas projeções de curto prazo que podem ser essenciais para apontar o caminho a ser traçado na 2ª metade da gestão do presidente Jair Bolsonaro.
Uma delas é de que o auxílio emergencial tende a não ser renovado no final deste ano, a menos que haja uma piora na pandemia. A outra é que é baixo o risco de o governo atual dar uma guinada populista de expandir gastos públicos. “Existe um ambiente para dar seguimento a um ciclo de aprovação de reformas importantes, como a tributária e a administrativa”, afirmou, ressaltando que ainda há muita coisa para ser feita para aumentar a competitividade do país.
Com relação a uma possível segunda onda de covid-19, Cascione afirma que governos aprenderam a lidar melhor com a doença, assim como as pessoas, o que aumenta as chances de controlar a velocidade da pandemia e manter as atividades econômicas em funcionamento sem mais restrições. “Governos só irão reagir se hospitais encherem”, pondera.
Para Cascione, o risco eleitoral em 2022 aumentou por causa da pandemia. A popularidade de Bolsonaro pode sofrer pressões por conta da fim do auxílio emergencial. “É muito cedo para fazer prognósticos de eleição. Bolsonaro segue bem posicionado, mas a condição é mais questionável”, afirmou.
Na segunda palestra da tarde, o economista Samuel Pessôa iniciou a análise macroeconômica para o país nos próximos meses. Pessôa começou sua palestra lembrando o baixo crescimento e a baixa produtividade tradicionais do Brasil, contextualizando o momento vivido pelo país, que ainda está saindo de sua segunda maior crise da história (2014-16), na qual a perda do PIB per capita foi de 9%. “O motivo dessa crise ser profunda tem origem em dois fenômenos, o intervencionismo político e o esgotamento do contrato social da redemocratização – que gerou uma crise fiscal que segue até hoje”, pontuou Pessôa.
De acordo com o economista, nos anos subsequentes de 2016, 2017 e 2018, a economia andou de lado – com crescimentos de pouco mais de 1% ao ano – porque o setor produtivo segue machucado e endividado e porque problemas fiscais geram incertezas. Com relação aos cenários para um futuro próximo relacionados à crise da pandemia, o economista salienta que há dois caminhos possíveis, de reancoragem ou desancoragem da política fiscal.
“A grande questão para sabermos como será a recuperação é se ‘vamos virar a página dos gastos excepcionais’. Se a opção for em reancorar a política fiscal, o câmbio volta a patamares anteriores e se alivia o processo inflacionário. No caso de desancoragem, pode haver a quebra do teto de gastos sem contrapartida, o que provocaria descontrole do câmbio e aumento da inflação. Mas, mesmo neste cenário pior, não vejo inflação explodindo, não vejo ruptura”, salienta, otimista.
O ex-ministro da Fazendo Mailson da Nóbrega também acredita que a política fiscal é o ponto chave da recuperação ou da piora da recessão. Foi dele a palestra que encerrou a programação do 22º Seminário Econômico. Nóbrega também está otimista com a retomada do país, mas enxerga alguns riscos, caso o presidente da República escolha sempre por medidas populares.
“Em caso de desancoragem, uma forte alta na relação dívida-PIB irá alimentar os temores de situação insustentável e de grandes incertezas. Estamos longe, mas uma situação dessas pode ocasionar descontrole da inflação e consequências sociais como aumento da desigualdade e queda da confiança. Não acredito que o governo proponha o fim do teto, seria um suicídio político, mas, mesmo que isso venha a ocorrer, a economia brasileira tem capacidade de resistir”, acrescenta, ao encontro do que disse o palestrante anterior.
Para ambos, essa capacidade de resiliência da economia do país mora no fato de, hoje, o Brasil vivenciar boas condições de reservas, com posições credoras elevadas, contas externas saudáveis que superam a dívida, além de um sistema financeiro sólido e estruturado.
“As vulnerabilidades do passado não estão presentes hoje. Todas as grandes crises foram de câmbio e de crédito, por isso, e porque o brasileiro é intolerante à inflação, o ajuste fiscal é fundamental. O Brasil é resiliente no campo institucional e no campo dos negócios e vai sair dessa crise ainda mais resiliente”, conclui Mailson da Nóbrega.