Analistas preveem recuperação moderada em 2017
Em meio às incertezas no cenário internacional, o 18º Seminário Econômico da Fundação CEEE “Cenários Macroeconômicos e Políticos 2017” foi marcado por dúvidas quanto ao sucesso do ajuste fiscal do governo Temer. O evento deste ano, realizado no Teatro do Bourbon Country, no dia 08 de novembro, com transmissão pela Internet, teve como palestrantes o professor e filósofo Emir Sader, que previu no cenário político “um ano de revoltas sociais pelo desmonte do estado nacional com a aprovação do ajuste fiscal”. O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, vê uma “recuperação frágil na economia”, apostando que o momento é de “cautela”. O economista Alexandre Schwartsman traçou um ‘Plano de voo”, com um cenário global nada empolgante e que não dá mais para culpar o mundo pela crise econômica no Brasil: “A recuperação será lenta, com crescimento moderado em 2017, na ordem de 0,5%, podendo chegar a 2% em 2018”. O 18º Seminário Econômico teve como mediadora a jornalista Dalva Bavaresco, apresentadora e repórter da TVE.
Abertura – Ao saudar os presentes e patrocinadores desse evento que é um marco no calendário de Porto Alegre, a presidente da Fundação CEEE, Janice Fortes, falou sobre a importância de analisar as perspectivas políticas e econômicas para o próximo ano, considerando que os Fundos de Pensão somam R$ 760 bilhões, com 7 milhões de participantes e têm um papel importante no desenvolvimento econômico do país. No caso da Fundação CEEE, com mais de 35 anos de atuação no mercado, são R$ 5,7 bilhões de patrimônio, com mais de 15 mil participantes.
Cenário Político – Como primeiro palestrante, o professor e Filósofo Emir Sader, iniciou lembrando as “rápidas transformações dos três últimos anos no Brasil”, começando com as eleições para presidente da República em 2014, o clima político em 2015 e o ‘impeachment’ em 2016 com “mudança no programa de governo”. Segundo Sader, Michel Temer não está cumprindo o programa para o qual foi eleito na chapa de Dilma Rousseff e que “o ajuste fiscal não levará à retomada do crescimento econômico”. Pessimista quanto às perspectivas, apontou para uma “depressão econômica” e disse que essa opção (ajuste fiscal) já foi aplicada no passado e os governos que a aplicaram nunca mais foram eleitos. Para ele, a aplicação desse modelo levará ao “desmonte do Estado Nacional” com cortes nos recursos para a educação e a saúde: “vão comprometer o país para os próximos 20 anos com a retirada dos direitos sociais e trabalhistas, do Bolsa Família, enquanto os juros da dívida não estão congelados”. Em razão disso, previu “grandes convulsões sociais para os próximos anos”. Segundo ele, “o Brasil corre o risco de voltar ao mapa da fome e ao FMI, enquanto o desemprego pode chegar a 13%”. Questionou a legitimidade do governo atual, por Temer estar aplicando “um programa que foi derrotado quatro vezes”. Emir Sader também disse que “os ricos estão aumentando seus lucros pela especulação financeira de 15% do PIB” e “utilizando o desemprego para combater a inflação”. Defendeu a ocupação das escolas pelos estudantes que protestam contra o ajuste fiscal e as mudanças impostas ao ensino médio como um ‘direito’ e que o ex-presidente Lula mantém um capital político com 34% do eleitorado, segundo as pesquisas.
Recuperação ainda frágil – O economista-chefe do Banco Fator com passagem pelo Ministério da Fazenda, José Francisco de Lima Gonçalves, acredita em uma “recuperação frágil” da economia brasileira em 2017. Embora tenha havido uma recuperação de confiança no mercado a partir de abril, esse nível de confiança ainda não chegou na indústria que continua subutilizada. Segundo ele, “é assustador essa queda de confiança na indústria que ainda deve durar”, considerando que “quem não confia não investe e não contrata pessoal”. No cenário internacional, a situação não é nada alentadora: apontou que os Estados Unidos devem subir a taxa de juros em 0,25% em dezembro de 2016, a inflação continuará elevada no Japão e a desvalorização da libra inglesa em 20% em razão do Brexit trará efeitos econômicos que ainda não apareceram. Com essa trajetória global que considera “perniciosa” os cortes nos gastos públicos “vão para o brejo”. Principalmente diante da recessão econômica junto com a crise política. Gonçalves mostrou as tendências de queda do emprego formal “que ainda vai piorar, com o desemprego chegando a uma taxa de 13%”. Para ele, “o maior erro do Governo Dilma foi as desonerações fiscais com queda de impostos: “quando um governo reduz impostos é porque ele já acabou”. Na sua visão de cenário futuro, a crise fiscal vai durar, o déficit público vai aumentar, a dívida/PIB vai crescer e o crédito não voltará tão cedo. No setor externo, o único sinal de melhora são os preços das exportações que estão crescendo. A questão da reforma da Previdência Social “será complicada”, com perspectivas muito ruins para a macroeconomia. No entanto, apontou dois segmentos que poderão ser fonte de investimentos: óleo e gás natural, com boas perspectivas para a Petrobras e Eletrobras, podendo também até ocorrer novas reduções da taxa de juros.
Plano de voo – subindo a ladeira – Na questão macroeconômica, Alexandre Schwartsman, que foi economista-chefe do grupo Santander Brasil, disse que embora não haja nada empolgante no cenário global, culpar o mundo pelos dois anos de recessão no Brasil “não dá mais”. Segundo ele, a crise é doméstica, já que as projeções apontam um crescimento de 3,6% do PIB para o mundo no período 2016/2021, embora os Estados Unidos tenham tido uma recuperação “nada empolgante”. Conforme dados do FMI, as economias desenvolvidas devem crescer 1,7% ao ano nesse período, enquanto os países emergentes crescerão 4,8% e América Latina e Caribe cresçam apenas 1,9%. Destacou a recuperação lenta dos norte-americanos após a crise de 2008, tendo conseguido reduzir pela metade o desemprego que chegou a 10%, com a oferta de 170 mil empregos. Ele também não vê pressão inflacionária por lá com a inflação controlada ao redor de 2% ao ano nos EUA. Schwartsman destacou o baixo desemprego na Alemanha, a valorização do dólar frente às demais moedas, enquanto as exportações brasileiras continuam representando 10% do PIB. O problema maior no Brasil, segundo ele, além dos erros da política econômica dos últimos anos que gerou desequilíbrio fiscal, continua sendo o gasto público “que cresce sem limites”, passando nos últimos 19 anos de 14% do PIB para 20% do PIB, com destaque para o gasto previdenciário que subiu de 5% do PIB em 1997 para 8% do PIB em 2016. Com o crescimento dos gastos obrigatórios do Governo Federal, ele disse que a margem de manobra fica “menor do que 10%” do orçamento anual”.
Dessa forma, o aumento de despesas sem garantia de receitas se acelerou no período 2012/2013 “com extraordinária piora fiscal para a Federação, Estados e Municípios”. O economista lembrou que o Brasil está a 28 meses consecutivos com desemprego em dois dígitos (desde o primeiro trimestre de 2014) e que o PIB caiu em R$ 132 bilhões, a preços de mercado. Apresentando o orçamento da União para 2016 previsto em R$ 1,2 trilhão, só as despesas com a Previdência representam 40%, num total comprometido de R$ 491 bilhões. Justamente em razão dessas despesas obrigatórias e não contingenciáveis, o governo tem apenas 10% do orçamento para aplicar em outras áreas. Para Alexandre Schwartsman, os “melhores cenários” só virão em 2026 ou 2030 com a estabilização da Dívida/PIB, precisando que mais dois governos se comprometam com a meta de controlar os gastos públicos. Nesse quadro de recuperação lenta e defendendo o ajuste fiscal do governo Temer, o economista prevê um crescimento moderado da economia em 0,5% em 2017 e de até 2% em 2018.
O 18º Seminário Econômico Fundação CEEE contou com os seguintes patrocinadores: Banco Modal, Verde Asset Management, SulAmérica, Vinci Partners, BBM Investimentos, Riosul Vida Seguros e Icatu Seguros.