21º Seminário Econômico debate cenários macroeconômicos e políticos
Gustavo Franco, Paulo Hartung e Carlos Melo foram os participantes do evento promovido pela Fundação Família Previdência.
Os desafios para 2020 para o governo e para a iniciativa privada estiveram no centro dos debates do 21º Seminário Econômico promovido nesta quinta-feira (28/11) pela Fundação Família Previdência, no Centro de Eventos do BarraShoppingSul, em Porto Alegre. Com a presença de 400 pessoas, o evento teve como palestrantes o sócio-fundador e estrategista-chefe da Rio Bravo Investimentos, Gustavo Franco, o consultor e ex-diretor do BNDES Paulo Hartung, e o doutor em Ciência Política Carlos Melo. A apresentação do evento e mediação dos debates foram conduzidas pela jornalista Zete Padilha.
O Seminário foi aberto pelo presidente da Fundação da Família Previdência, Rodrigo Sisnandes Pereira, que destacou o propósito do seminário de contribuir para o entendimento dos cenários macroeconômicos e políticos do próximo ano. Em seu discurso, Sisnandes falou sobre os resultados positivos da Fundação, salientando a rentabilidade acumulada de 19%, o patrimônio que superou os R$ 7 bilhões e o ingresso de 2 mil novos participantes, batendo a meta estabelecida para o ano. O dirigente também anunciou as adesões de quatro novos instituidores como a ABRH-RS – Associação Brasileira de Recursos Humanos; o SINDHA, Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre e Região; a Associação dos Jornais do Interior do RS – ADJORIRS e o CEAPE – Sindicato de Auditores Públicos do Tribunal de Contas do RS. “Essas entidades vislumbram que o futuro de seus associados dependerá de um planejamento financeiro com a formação de poupança de longo prazo”, disse.
O presidente da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar – ABRAPP, também participou do evento. Luis Ricardo Marcondes Martins falou sobre a dimensão e a importância do segmento como parceiro na solução de problemas macroeconômicos do país na condição de financiador de projetos de longo prazo. “O sistema fechado de previdência complementar gere R$ 980 bilhões, algo correspondente a 14% do PIB e é pouco. O Brasil só poupa mais que o Equador na América. Precisamos incrementar a poupança de longo prazo”, salientou. Martins também elogiou o protagonismo da Fundação Família Previdência na oferta de planos para os familiares.
Paulo Hartung afirmou que o Brasil deu um tropeço importante na crise internacional de 2008, cujos efeitos são sentidos até hoje. “O estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos provocou um movimento mundial de intervencionismo governamental, inclusive no Brasil. O problema foi que, diferente de outros países que saíram de cena assim que a economia se recuperou, o governo brasileiro manteve essa postura e trouxe de volta políticas equivocadas que resultaram na pior recessão econômica da história entre 2014 e 2016 e num alto custo da máquina pública, que nos trazem graves consequências até hoje.”
O passado recente, com forte sofrimento social, que tem como resultado 12 milhões de desempregos e redução da renda do brasileiro, tem gerado um ambiente para mudanças no País, ressaltou Hartung. “A sociedade deu autorização ao Parlamento para fazer as reformas e retomar o caminho do crescimento. O juro baixo e inflação sob controle também favorecem o ambiente para levar adiante as reformas estruturantes e manter o compromisso. Não podemos perder essa oportunidade”, alertou.
Hartung ressaltou que o governo federal deve assumir mais o exercício de liderança na continuidade da agenda reformista no Congresso Nacional, dialogando com a sociedade para que perceba a importância desse caminho.
Carlos Melo afirmou que as rápidas transformações da sociedade com a revolução digital têm gerado no mundo inteiro comportamentos como a ruptura do diálogo, insegurança e populismo internacional. É nesse cenário que o Brasil precisa encontrar um caminho para estabelecer uma pauta mínima importante que possa cumprir e fazer diferença para o País, considerando de forma muito prioritária a educação e diminuindo a chamada “resistência corporativa”, na qual as pessoas buscam privilégios.
Em relação ao governo federal, Melo entende que precisa fortalecer as suas relações com a Câmara dos Deputados e o Senado e assumir para si a pauta das reformas e capitalizá-las politicamente. Ele destacou que as reformas precisam ter continuidade no próximo ano, mas ressaltou a necessidade de uma liderança para que isso aconteça. Um dos grandes desafios do governo é ampliar a comunicação para que o povo entenda os benefícios das reformas e o que todos ganharão com as mudanças. “Para ter boa educação e saúde é preciso fazer reformas. Seria importante explicar para a população, por exemplo, os benefícios em unificar orçamentos da saúde e da educação e como a Reforma da Previdência vai ajudar a equilibrar o País”, sugeriu.
Ex-presidente do Banco Central e um dos protagonistas do Plano Real, Gustavo Franco afirmou que os governos não vão recuperar a capacidade de investimento de outrora. “Esse desafio passa a ser do setor privado. E a grande discussão que vai se estabelecer no País será como as empresas assumirão esse papel considerando suas implicações financeiras, fiscais e regulatórias”, afirmou. Franco comentou que as empresas privadas estão acostumadas a trabalhar com alavancagem pequena, inflação e juros elevados. “O grande desafio é achar a equação financeira inteligente e viável para multiplicar de tamanho. No âmbito de políticas públicas, o estado tem que passar pela reforma tributária. É preciso uma nova legislação tributária para esse novo mundo.”
Franco salientou que o setor privado que contempla esse desafio gostaria de enxergar o ambiente de políticas públicas com mais clareza. “O ministro Paulo Guedes tem feito um bom trabalho, mas é preciso que o presidente da República mostre mais envolvimento com a pauta e, desta forma, transmita mais segurança aos empresários brasileiros”, observou.
Fotos: Tânia Meinerz
Confira a íntegra das palestras na página do evento no facebook.