Os desafios previdenciários antecipados pela pandemia
Teremos menos adultos na população economicamente ativa e mais idosos, dependentes dos sistemas de proteção social por mais tempo.
Por Rodrigo Sisnandes Pereira*
Artigo publicado no site da Revista Amanhã, em 19 de junho.
A Reforma da Previdência, aprovada no ano passado, mal saiu do forno e já percebemos a necessidade de ajustes em um futuro bem próximo. Ninguém poderia prever que um vírus desafiaria a sociedade nesta magnitude, com impactos irreparáveis com a perda de milhares de vidas e reflexos nas economias mundiais. O balanço econômico da pandemia resultará em novos ajustes fiscais, incluindo revisões na previdência pública.
Esse fator conjuntural soma-se ao aspecto estrutural da dinâmica populacional que impacta diretamente na previdência. O Brasil passa por uma transição demográfica acelerada, reduzindo a base com pessoas jovens e aumentando o topo com pessoas mais idosas. O que levou 120 anos na França está ocorrendo em 20 anos em nosso país. Um processo seis vezes mais rápido. De acordo com as projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população brasileira vai crescer até 2047, atingindo 233 milhões de habitantes. A partir daí, ela vai decrescer gradualmente até 228 milhões, em 2060.
Teremos menos crianças em idade escolar, menos adultos na população economicamente ativa e mais idosos, dependentes dos sistemas de proteção social por mais tempo, graças à longevidade conquistada com a vida moderna. Já tínhamos o diagnóstico de que o Brasil está envelhecendo pobre e o coronavírus é mais um fator que agrava o problema, com reflexos incalculáveis no futuro, pois muitas famílias estão recorrendo a suas reservas de poupança para passar por este momento desafiador ou dependendo exclusivamente do auxílio governamental.
A retomada da atividade econômica depende da velocidade dos resultados dos testes com vacinas. O momento é para ter calma, seguir as recomendações das autoridades com relação ao distanciamento social e higienização, além de proteger as pessoas nos grupos de risco. Mas também precisamos estar atentos aos desafios financeiros do momento, no controle de gastos domésticos e na composição de poupanças de longo prazo.
Programas de educação financeira e previdenciária contribuem para a formação de cidadãos mais conscientes sobre o valor do dinheiro e sobre a necessidade de estabelecer poupanças de curto e longo prazo. Elas proporcionarão sustentabilidade em situações adversas e mais tranquilidade na futura aposentadoria, por meio de planos de previdência privada que hoje ainda alcançam uma parcela muito pequena da população. O desafio do momento é superar a Covid, mas o futuro é ainda mais desafiador para as próximas gerações que verão uma redução no número de escolas e um aumento nos serviços que visam a qualidade de vida de idosos.
*Diretor-presidente Fundação Família Previdência