23º Seminário Econômico da FFP debate rumos da política e da economia

rodrigoMarco Antônio Villa, Mansueto Almeida e Álvaro Bandeira projetaram os cenários para o próximo ano.

O ano de 2022 e as projeções para os rumos do país e do mundo estiveram em discussão no dia 24 de novembro no 23º Seminário Econômico da Fundação Família Previdência (FFP). O evento abriu a jornada conjunta do Connect, que une o Seminário ao Caminhos para o Futuro em dois dias de programações online para debater cenários macroeconômicos, políticos e finanças pessoais. No primeiro evento, falaram ao público Marco Antônio Villa; historiador e comentarista, Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual e ex-chefe do Tesouro Nacional, e Álvaro Bandeira, sócio e economista-chefe do Modalmais.

Na abertura do Seminário, apresentado pela jornalista Simone Lazzari, da RBSTV, o Diretor-Presidente da Fundação, Rodrigo Sisnandes Pereira, destacou o desempenho da entidade no longo prazo que acumula uma rentabilidade acima de 480% nos últimos 15 anos e a necessidade de ampliar a cobertura de planos previdenciários para uma parcela maior da população, seguindo o caminho adotado pelos entes federativos que estão ofertando planos para os servidores públicos.

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Cenário Político
Na primeira palestra, Villa apontou para como está se desenhando o cenário eleitoral de 2022. A palestra mostrou que até o momento o pleito conta com dois candidatos claros, Bolsonaro e Lula, e apontou os possíveis concorrentes aos nomes que polarizam o debate político. Com a ressalva de que não é partidário a apostas, Villa arriscou uma previsão.

“A eleição presidencial de 2022 deve quebrar a tradição de reeleição de presidentes. Vejo como chance quase nula a de Bolsonaro se reeleger, muito próxima a zero”, acredita o historiador, com a ressalva de que análise eleitoral com muita antecedência é sempre muito arriscada. “Em 2017, ninguém imaginava Bolsonaro no segundo turno e na liderança da corrida”, salienta.

Para ele, o grande problema, caso se confirme tal cenário, está em como o presidente irá governar o país nos meses antes de deixar o cargo. “Um suposto derretimento na intenção de voto da candidatura do presidente Bolsonaro pode gerar efeitos políticos, sociais e institucionais bastante ruins, visto que nos últimos dois anos e 10 meses vivemos a maior tensão política da história, que supera até mesmo os dois processos de impeachment do país, com crises entre os poderes que refletem direto na vida da população”, salientou.

De acordo com o palestrante, na corrida ao Planalto, Lula irá exaltar os seus dois mandatos e tentará fugir da imagem ruim deixada pelo governo Dilma, enquanto Bolsonaro buscará seus êxitos, e ambos terão de fugir dos escândalos como Petrolão, Mensalão e Rachadinha, que serão expostos pelos adversários. Os demais candidatos de visibilidade devem ser Sergio Moro, Ciro Gomes e o vencedor da disputa interna no PSDB, que ocorre entre João Dória e Eduardo Leite. Estes, para o especialista, estão atrás na busca de alianças, enquanto Bolsonaro tem essa dificuldade natural e precisará fazê-la também internamente no novo partido.

“A questão do quebra-cabeça envolve as demais candidaturas, que ainda estão em construção e, por isso, saem em desvantagem. O PSDB está enfraquecido e vive problema interno, Ciro, pelo PDT, tem fama de pavio curto e dificuldade de construir alianças, e Moro deve ser questionado quanto à parcialidade dos julgamentos”, contextualiza. Para ele, Lula pode estar de “salto alto”, conforme a expressão popular, o que pode prejudicá-lo pois eleições “não são vencidas de véspera”.

 

mansuetoCenários Econômicos
No cenário econômico, Mansueto Almeida abordou a recuperação do país no ano e explicou as incoerências entre os bons resultados do Brasil no PIB, no déficit primário do setor público e na dívida pública com a queda do índice Ibovespa, a alta do dólar e o crescimento na curva de juros e taxas em alta. O economista–chefe do BTG Pactual apontou que o país superou números previstos: em vez de crescimento do PIB de 2,5% e 3%, encerrará o ano com crescimento perto de 5%. Quanto ao déficit primário, as projeções especulavam dívida de R$ 300 bilhões, e será de R$ 50 bilhões. A dívida pública, em vez de girar em 90% do PIB, será inferior a 82%, índices muito melhores, mesmo com uma segunda onda muito forte de contaminação da covid-19 em março e abril, com empresas registrando primeiro e segundo semestres de bons resultados.

“Alguns apontamentos explicam os resultados ruins na bolsa, e a alta do dó dólar e dos juros. Primeiro, a proposta de reforma tributária mal recebida pelo mercado, o que machucou preços de ativos e interferiu no Ibovespa. Segundo, a ausência de arrefecimento na alta dos preços, o que elevou os índices de inflação. Terceiro, o fato de a inflação não ter caído fez com o governo não ganhasse folga para corrigir os gastos obrigatórios, o que contaminou o debate fiscal”, explica.

A fala do economista atentou, ainda, para alguns cuidados, como a questão do câmbio e a forte desvalorização do real desde o começo da pandemia, o forte aumento do gasto público, que, no Brasil, não volta, e gera risco de uma trajetória de crescimento da dívida insustentável.

De acordo com Mansueto, o ano de 2022 vai ser de juro alto e com a economia crescendo pouco. A incerteza é maior para os anos seguintes, sem saber se o país continuará com agendas de reforma”. A situação fiscal ainda não é confortável. Para se chegar à clara trajetória de queda, é preciso um cenário melhor do superávit primário e um mínimo de certeza independentemente da conjuntura política, com uma agenda fiscal confiável e responsável”, salienta.

alvaroPor fim, Álvaro Bandeira foi ao encontro de que o próximo presidente, independentemente de quem será eleito, precisa recolocar o país nos trilhos, com o cultivo da união dos três Poderes em prol do bem da população. O diálogo com a comunidade internacional, uma maior abertura da economia com mais importação e exportação, melhora na presença no mercado internacional e atenção à área climática.

Para o sócio e economista-chefe do Modalmais, o ano de 2022 será de desaceleração mundial após a retomada de 2021. “A saída da crise global é bem mais desafiadora do que as medidas tomadas para passar por essa fase. Ela envolverá flexibilidade de governos, bancos centrais e empresários”, disse.

Bandeira levou para a sua apresentação alguns exemplos das principais economias do mundo. Nos Estados Unidos, a inflação bateu 6,2%, o contágio do vírus voltou a crescer e ocasionou retirada de estímulos, o FED anunciou que deixará de comprar títulos do Tesouro e hipotecários. A partir de maio, são previstos dois aumentos no juro, com a previsão de retomada do pleno emprego ao longo do ano. A economia da China demonstra problemas com empresas construtoras, redução de consumo de bens automotivos, inflação elevada no atacado, mas, ainda assim, deve crescer acima de 5% no ano. Na Alemanha, a inflação beira 18% no atacado, a economia está fraca apesar do fôlego que está ganhando neste final de ano. O país voltou a adotar medidas restritivas devido à piora da pandemia. A Zona do Euro teve projeções melhoradas pelo Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI). No Japão, a economia cresce pouco, mas a inflação não é problema. O país prepara um novo pacote de estímulo. Na América Latina e Caribe, o FMI elevou para 6,3% a projeção do PIB em 2021, a do Brasil está de 4,7%. Ao encerrar, o economista alertou para uma preocupação importante para o país receber bons investimentos externos.

“O Brasil precisa apresentar segurança jurídica para investidores externos. Se o PIB do terceiro trimestre for negativo, podemos entrar em uma recessão técnica”, apontou.

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