Tradicional evento no calendário gaúcho também falou do impacto das enchentes no RS
As projeções da economia nacional e global, o impacto das eleições norte-americanas para as finanças mundiais, e o cenário político que se avizinha em 2026 foram alguns dos temas abordados pelos palestrantes do 26º Seminário Econômico Família Prev. Realizado na tarde desta sexta-feira (1º), no Centro de Eventos do BarraShoppingSul, em Porto Alegre, o encontro marcou os 45 anos da entidade – fundada em 1979, como Fundação CEEE –, e contou com apresentações do economista Bruno Funchal, do doutor em Ciência Política, Alberto Carlos Almeida, e do doutor em comunicação Dado Schneider.
Na abertura, o diretor-presidente da Família Prev, Rodrigo Sisnandes, destacou a importância de falar sobre previdência privada, uma vez que o Brasil vive uma grande mudança demográfica, com mais idosos e menos jovens. “Nós, no Rio Grande do Sul, vamos ser o primeiro estado a reduzir a população. Então, isso também nos causa uma dificuldade na questão econômica, e na migração de mão de obra qualificada” afirmou. “Nossos desafios não são pequenos, sem dúvida vamos precisar de muita resiliência e muito trabalho em conjunto de todas as forças empresariais e políticas para que nós possamos fazer essa travessia” continuou Sisnandes. Para ele, em questão de pouco tempo, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) terá um caráter muito mais assistencialista do que de previdência.
Eleições presidenciais já estão no radar
Menos de uma semana depois do segundo turno das eleições municipais, o Brasil já voltou sua atenção para o cenário político presidencial, de 2026, antecipou Almeida, que é doutor em Ciência Política pelo Iuperj e diretor do Instituto Brasilis. Para o especialista, ao contrário das eleições norte-americanas – onde as dúvidas superam as certezas –, o panorama nacional tem desenhos mais previsíveis. “A derrota do PT nos municípios tem impacto na reeleição de Lula? Não. Ele tem mais idade, porém, com condições de se candidatar novamente”, opinou.
Já o principal opositor com capacidade de enfrentar o atual presidente à altura, Jair Bolsonaro, enfrenta rejeição dos pares, especialmente por não criar alianças. “Bolsonaro foi perdedor no mundo político. Dentro da direita, lançou candidatos dele à prefeitura contra os governadores daqueles Estados. Cito como exemplo Paraná, Goiás e Minas Gerais. Ele faz o que quer, não compõe com ninguém, e a votação municipal confirmou isso”, disse o cientista político.
Outro nome com potencial, acredita, é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. A candidatura, no entanto, depende de uma série de fatores, inclusive a decisão pessoal do gestor. “Ele não teve uma formação política, mas como engenheiro e militar. Se fosse um político tradicional, a decisão natural seria continuar no cargo, não trocar o certo pelo duvidoso. Vide o José Serra. Se ele sai do cargo e disputa uma eleição presidencial e perde, fica com o pincel na mão”, falou. Nesse contexto, com Tarcísio candidato, ponderou Almeida, quem larga na frente é aquele que tem a máquina pública na mão. Conforme o cientista político, até mesmo após um primeiro mandato desastroso, Dilma Rousseff conseguiu a reeleição por estar sentada na cadeira presidencial.
Para fazer as projeções, Almeida também trouxe um breve apanhado do contexto político recente do Brasil. Segundo ele, algumas decisões equivocadas da ex-presidente Dilma Rousseff têm impactado até hoje nos bastidores políticos do país. A principal, apontou, foi o não pagamento das emendas dos apoiadores do governo. Revoltados, os deputados criaram a ferramenta das emendas impositivas, empoderando o Congresso e os afastando cada vez mais da presidência.
“Isso deu um poder brutal ao Congresso. Ele não depende em nada do governo federal. O deputado ficou livre para votar no que quiser, pois a barganha acabou. Isso tem uma implicação importante, caso Lula seja reeleito. É como José Sarney dizia: presidência é como violino, você segura com a esquerda e toca com a direita. Lula tem as mãos amarradas. Essa decisão da Dilma fez com que o presidente da Câmara ficasse muito poderoso, ele é um mini-ditador”.
Cenário global em pauta
Economista, CEO do Bradesco Asset Management, e com atuações como secretário Especial do Tesouro e Orçamento, secretário do Tesouro Nacional, e secretário da Fazenda do Espírito Santo, Bruno Funchal falou sobre as eleições norte-americanas, cenários que podem surgir a partir dessa importante votação, rescaldos da pandemia na economia global e a crise enfrentada pelo Rio Grande do Sul após as enchentes de maio.
Para ele, o contexto atual é de pontos positivos, mas também de riscos. O lado bom, avaliou, ocorre em razão da queda global dos juros. “O crescimento da economia mundial está voltando à normalidade. Estamos entrando num ciclo de queda de juros em todo o mundo, com exceção do Brasil e Japão. A tendência global é sair da alta de juros e entrar na queda de juros, mas não aqui, onde estamos com 10,75”.
Já os riscos, disse, pairam sobre a incerteza das eleições nos Estados Unidos, o que pode ser ameaçador com qualquer resultado. Trump, defendeu, é a favor da barreira tarifária para incentivar o produtor local, porém, há tendência de ter mais juros. Por outro lado, Kamala traz ameaças na política fiscal de despesas, continuando o problema do déficit americano.
Aprendizado que fica
No contexto nacional, Funchal abordou a questão das despesas obrigatórias da União, que estão crescendo rapidamente. Uma boa fatia desse bolo, lembrou, é destinada para a previdência. Com a inversão da pirâmide etária, o modelo deve ser repensado, sugeriu. “Enquanto a gente tiver esse modelo de previdência, vamos sempre estar discutindo uma nova reforma. Diferente do que aconteceria se tivesse, por exemplo, se tivéssemos implementado um modelo que é o fundado, que é aquele em que você contribui para a sua própria poupança”.
O economista também falou sobre a tragédia climática que atingiu o Rio Grande do Sul em maio. Disse que as enchentes tiveram impacto para além do Estado, afetando todo o Brasil, dada a importância gaúcha no cenário nacional. “Muita coisa da agricultura e da pecuária vem daqui, isso reflete no Brasil inteiro. O RS tem uma fatia importante do PIB, de cerca de 7%. Então, o choque sendo relevante aqui, é relevante para o Brasil também”, afirmou. “Agora, é esse processo de reconstrução, mas também de aprendizado. Acho que o maior valor que a gente consegue extrair é isso”, finalizou.
De Chacrinha à Virgínia: rupturas geracionais
Já pensou em participar de uma palestra cujo apresentador não fala nada? Assim foram os 10 primeiros minutos da apresentação do doutor em comunicação Dado Schneider. Usando apenas slides, ele “falou” sobre a Geração Z, aquela nascida a partir de 1995. Segundo ele, indivíduos e corporações precisarão mudar para se adaptar a esses jovens. “Eles não vão querer trabalhar com a gente. Nós é que vamos ter que adaptar as nossas organizações a essa geração. A internet trouxe infinitas novas fontes de informação e formas de se aprender. Por isso houve a ruptura”.
Para ilustrar o abismo geracional que vivemos atualmente, Schneider citou um exemplo que experienciou na sala de aula, quando falou para a turma sobre Chacrinha. “Uma aluna me perguntou quem ele era, pois ela não tinha nascido na época dele. Como estudante de comunicação, deveria ter esse conhecimento”, divertiu-se. Por outro lado, essa geração conhece e acompanha a influencer Virgínia, disse. “Alguém aqui conhece ela? Ela é casada com um cantor que canta muito mal, é nora do Leonardo”.
O painelista também brincou com a diferença de compreensão entre as gerações, citando expressões e gestos usados por cada uma. “Não falem ‘Zap Zap’, pelo amor de Deus! A geração Z fala ‘Whats’!”, ironizou.
Sobre o Seminário Família Prev
Organizado e realizado pela Família Prev desde 1999, o encontro é tradicional no calendário político-econômico do Rio Grande do Sul e foi realizado com o patrocínio de BTG Pactual Asset Management, XP Investimentos, Sul América Investimentos, Icatu Seguros, RSUL Bravida Seguros, Brasil Capital, Bradesco Asset Management, Santander Asset Management, Itaú e Navi Capital. As 25 edições realizadas já tiveram a participação de 80 palestrantes e reuniram mais de 9,2 mil inscritos. O 26º Seminário Econômico também marca os 45 anos da entidade, que adotou uma nova marca este ano: Família Prev.